Editorial
O copo meio vazio da violência
Divulgada ontem, a 17ª edição do Anuário de Segurança Pública, um dos mais completos documentos sobre o tema no Brasil, traz uma ótima notícia: o número de mortes violentas em 2002 alcançou o menor patamar no País em 12 anos. Apesar de absurdamente alta, a quantidade de 47.508 vidas perdidas em homicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes por intervenções policiais representa uma grande queda em comparação ao pior período da série histórica, em 2017, quando mais de 65 mil pessoas morreram vítimas de violência.
Essa é uma ótima notícia. Afinal, levando em consideração o cenário de 2017 e comparando ao atual, é como se em cinco anos o País conseguisse preservar entre 15 mil e 20 mil vidas a cada 12 meses. A taxa de mortalidade a cada cem mil habitantes caiu nesse período de 30,9 para 23,4. Segundo analistas responsáveis pela compilação e avaliação dos dados do Anuário, são vários os fatores que podem explicar a melhora na taxa de mortes violentas, incluindo desde o envelhecimento da população até programas de segurança pública mais complexos e não voltados apenas a ações policiais, mas também de prevenção e pacificação. Algo nos moldes do Pacto Pela Vida (Pernambuco) e Ceará Pacífico. Onde, aliás, pode ser incluído também o Pacto Pela Paz, aqui em Pelotas.
Por outro lado, o mesmo Anuário traz dados preocupantes sobre outras violências. Casos de racismo, por exemplo, deram um salto gigante de 68% em apenas um ano. Enquanto em 2021 foram registradas 1.464 ocorrências, no ano passado foram 2.458. Isso, claro, sem levar em consideração a óbvia subnotificação, já que muita gente não leva às autoridades as ofensas recebidas. Na mesma lógica cabe outro crime que aumentou no ano passado, o de agressões a LGBTQIA+, que teve alta de 54% em registros. A situação mais vergonhosa é justamente a do Rio Grande do Sul, que lidera esse crescimento, tendo 77% mais casos e 2022.
Há alerta, ainda, com relação aos estupros. No ano passado o Brasil bateu um triste recorde deste tipo de crime, com 74.930 ocorrências oficialmente registradas. O que significa um aumento de 8,2% em 12 meses e, ainda, uma taxa de 36,9 pessoas vítimas dessa violência a cada cem mil habitantes. Algo inconcebível.
Estes são apenas alguns números que o relatório anual da realidade brasileira traz. O que evidencia que, embora haja avanço significativo na taxa de mortes violentas, não se pode considerar algo a ser comemorado, já que praticamente um em cada cinco homicídios no mundo ocorre no País. E outras tantas violências, frutos de machismo, intolerância e outras chagas sociais, continuam crescendo. Não há como ver o copo meio cheio.
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